Especialistas defendem atualização do currículo e formação continuada

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Florianópolis- Uma educação que favorece o pleno desenvolvimento do estudante precisa de professores que apresentem habilidades como empatia, reconhecimento e colaboração. A formação do docente para a educação do século 21 foi discutida entre especialistas dos Estados Unidos, Finlândia e Singapura, no Seminário Internacional de Educação promovido pela Fiesc, nesta quinta-feira (26), em Florianópolis. Entre os principais desafios do professor estão as questões multirraciais, multiculturais e multiétnicas, que diversificam a sala de aula e não podem ser ignoradas.

“Professor que desempenha seu papel por vocação e com amor, inspira o seu aluno a desenvolver-se integralmente”, afirmou o presidente da Fiesc, Glauco José Côrte. “Se queremos melhorar a qualidade de ensino temos que melhorar a qualidade do professor. O que o professor deve ensinar, qual a técnica que deve ser utilizada, como atrair e captar a atenção dos jovens para que entendam que a educação faz sentido para a sua vida são algumas das questões abordadas no seminário”, acrescentou.

O secretário de educação, Eduardo Deschamps, ressaltou que uma educação de qualidade passa por três pilares: bom currículo, boa gestão da escola e bons professores. “Há um longo caminho a ser trilhado para alcançar desempenhos como o de Finlândia e de Singapura, mas os pontos de atenção devem estar nestes três pilares”, assegurou.

SINGAPURA

O país asiático desponta por liderar avaliações de desempenho como o Programa Internacional de Avaliação do Estudante (PISA). Com a economia cada vez mais globalizada, a abordagem educacional também precisa ser diferente, explicou a representante do National Institute of Education Singapore, Myra Rhoda Garces Bacsal. “Como educadores do século 21 estamos enfrentando muitos desafios porque o cenário educacional está mudando. Há questões multirraciais, multiculturais e multiétnicas que estão em jogo. Nossas salas de aula estão se tornando cada vez mais diversas e os docentes devem ter condições de navegar nessas ondas de salas de aula culturalmente diferentes para que continuem sendo significativas para o século 21”, afirmou Myra.

Entre os conhecimentos fundamentais que professores e alunos devem ter estão o domínio do conteúdo acadêmico, competência matemática e científica e conhecimentos em língua, artes, geografia, história e economia. É necessário também a alfabetização digital de alunos e professores. “Tanto o aluno, quanto o professor, precisa ter habilidade para navegar e construir informações usando tecnologias digitais. Eles precisam ser capazes de procurar e organizar a partir de uma variedade de meios de comunicação, transformando-se em caçadores de dados”, afirmou Myra, lembrando que o uso da tecnologia deve ser feito com responsabilidade.

FINLÂNDIA

A secretária da cidade de Helsinque, na Finlândia, Marjo Kyllonen, comentou as mudanças realizadas no sistema educacional do País para atender às necessidades dos alunos do século 21, baseado na equidade. “Na nossa escola do futuro, o aprendizado é visto como um processo aberto, flexível e colaborativo. O aprendizado acontece em todos os lugares e todos os lugares são lugares de aprendizagem”, afirmou. “Queremos relacionar sua aprendizagem com fenômenos da vida real em vez de ensinar conteúdos isolados sobre disciplinas diferentes. Queremos que eles saibam e entendam o que estão aprendendo e que possam usar sua competência e conhecimento na realidade”, acrescentou. Para ela, esse tipo de aprendizagem é muito mais motivadora e profunda porque os alunos entendem o que estão aprendendo e o que se relaciona com sua vida real.

Marjo também destacou que o papel do professor mudou e é comparado ao de coach. Ela afirmou que as mudanças no sistema educacional só foram possíveis graças à atualização do currículo e ao envolvimento de toda a sociedade – professores, pais e alunos. Na Finlândia, as tecnologias também são aliadas desse processo. Professores recorrem à robótica e programação para um aprendizado inovador. O País testa a chamada aprendizagem com base em fenômeno: os alunos vivenciam experiências em suas escolas de forma holística, ou seja, sem segmentação por disciplina, com pesquisa e vinculação ao cotidiano.

FORMAÇÃO DE PROFESSORES

A secretária executiva do MEC, Maria Helena Guimarães de Castro, participou do seminário na condição de ministra em exercício e falou sobre a política nacional de formação de professores, lançada na semana passada. De acordo com diagnóstico traçado pelo INEP, os resultados insuficientes dos estudantes, a baixa qualidade da formação dos professores, currículos extensos e que não oferecem atividades práticas, poucos cursos com aprofundamento da formação da educação infantil e no ciclo da alfabetização, estágios curriculares sem planejamento e sem vinculação clara com as escolas são alguns dos fatores que afetam a qualidade do professor. “Todas as pesquisas indicam que a qualidade do professor é o fator que mais influencia o aprendizado das crianças. Inúmeros fatores afetam o aprendizado, mas o professor é quem faz diferença na educação e isso nos motivou a rever a política nacional de formação de professores, uma vez que não tínhamos uma política pública, apenas programas fragmentados”. Essa política completa várias ações desencadeadas do MEC, como a reforma do ensino médio e a nova base nacional comum curricular, citou Maria Helena. O Brasil possui mais de 2,1 milhões de professores na educação básica.

A formação adequada do docente também é um desafio no Brasil. Apenas 50% dos professores de matemática têm formação adequada para lecionar nos anos finais do ensino fundamental e do ensino médio. Em língua portuguesa, pouco mais de 47%. A nova política amplia, por meio do programa Universidade Aberta, a oferta de vagas em cursos de licenciatura (250 mil vagas em 2017 e 2018) e estabelece a residência pedagógica para elevar a qualidade da formação docente – serão 80 mil bolsas. A iniciativa prevê ainda o desenvolvimento de uma plataforma voltada à formação continuada do professor. Nessa linha, a Fiesc e a Fecomércio oferecem cursos sobre educação integral para docentes.

Em painel mediado pelo conselheiro do Movimento SC pela Educação e diretor do Instituto Ayrton Senna, Mozart Neves Ramos, as especialistas responderam perguntas sobre atratividade dos jovens na sala de aula e da carreira de professor, planejamento escolar de forma colaborativa, educação em tempo integral, entre outros temas.

O membro do conselho consultivo do PISA 2021, César Augusto Nunes, abordou os desafios e perspectivas da educação integral. Em 2018, o PISA passa a avaliar também competências globais: integram as habilidades socioemocionais, mas também valores como a aceitação da diversidade cultural. Em 2021, também avaliará o pensamento criativo. No entanto, o professor não foi formado para ensinar criatividade, além de química, por exemplo. “Por isso, precisamos criar comunidades profissionais de aprendizagem, estimular a experimentação, avaliar programas, comunicar e construir o conhecimento de forma coletiva”, disse.

O presidente do Cambridge Institute for Brazilian Studies, James Ito-Adler, falou sobre o papel do professor no processo de inovação na educação. Ele citou uma pesquisa que fez em 2013 com estudantes de 13 a 15 anos e que revelou que o professor tem medo das mídias sociais. “Inventei a palavra triálogo, um diálogo com três pessoas: professor, aluno e pais. O que o menino faz em casa no computador dentro do quarto e com as portas fechadas? Só mãe e pai que podem cobrar”, comentou. “Tem alunos de 4 horas na escola e 8 horas no computador dentro de casa, tem perigos, prazeres e conhecimento. Alunos conectados na internet o tempo todo, mergulhados no mundo eletrônico. A tecnologia não vai mudar completamente a profissão do professor, mas os professores precisam acompanhar essas mudanças na vida dos jovens”, alertou James. (Ass.Com. Fiesc)