Valdir Colatto fala sobre assuntos polêmicos

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Xanxerê– O portal Foca na Notícia realiza a partir de hoje uma série de entrevistas com os candidatos da região aos cargos de senador, deputado federal e estadual, e com os principais candidatos ao governo do Estado.

O primeiro a ser entrevistado é o deputado federal Valdir Colatto que é candidato a reeleição na Câmara Federal.

Apresentação

Valdir Colatto é técnico agropecuário e engenheiro agrônomo. Foi diretor do Incra/SC, diretor geral e secretário da agricultura de Santa Catarina, secretário de articulação nacional de Santa Catarina, dentre outras funções.

Foi eleito na Câmara Federal pela primeira vez em 1990 e, atualmente, está no sétimo mandato.

Na entrevista com o portal Foca na Notícia, Colatto respondeu sobre alguns assuntos que foram alvo de polêmica durante o ano.

Foca na Notícia – Deputado Colatto, você está em campanha para reeleição e utiliza o título de “O homem forte da Agricultura”. É uma bandeira louvável, mas você não acha que o país hoje precisa de atenção em outras áreas também?

Valdir Colatto – Quem vem de uma família de agricultores, com 14 irmãos, meu pai nos criou em quatro hectares de terra, onde começamos a trabalhar aos seis anos, com uma enxada feita sob medida, e à medida que a gente ia crescendo ia mudando o tamanho da enxada, eu tenho as minhas raízes na agricultura e a gente costuma dizer que a gente sai da agricultura, mas a agricultura não sai da gente. Eu levei essa conduta da agricultura para a minha vida, para os meus estudos e depois de formado entendi que a agricultura não pode ser só dentro da porteira, ela tem que ir para fora, por isso eu faço a política agrícola, para ajudar os agricultores a produzirem, mas principalmente para serem reconhecidos pelo valor que têm, afinal são eles que colocam comida na nossa mesa três vezes por dia. Tudo passa pela agricultura. Sem agricultura você não tem saúde, não tem escola, não tem transporte, não tem comércio, não tem riqueza. Eu sempre digo que quando há crise na agricultura, seja por problemas de clima, de mercado, ou outro qualquer, não é da agricultura, é de todos, porque se a agricultura vai mal, todos vão mal.

Foca na Notícia – Nós reconhecemos a importância do agronegócio, mas hoje o país vive uma grande crise em outras áreas também. Como o deputado vê isso?

Valdir Colatto – Eu sempre digo que quando há crise na agricultura, seja por problemas de clima, de mercado, ou outro qualquer, não é da agricultura, é de todos, porque se a agricultura vai mal, todos vão mal. Quando você envolve a agricultura, por exemplo, você envolve o transporte. Eu me dedico, muito á essa área, porque o Brasil adotou o transporte rodoviário, e hoje 60% do transporte vem do transporte rodoviário. É mais caro, mas o país adotou essa modalidade e agora temos que dar um jeito de funcionar da melhor forma possível. O transporte tem uma ligação muito forte com a agricultura. Por isso eu trabalho forte com essa área da economia, que produz, que paga imposto, que gera emprego e renda. Essa é minha luta. Mas é claro que eu também me dedico a outras áreas, como a saúde, que eu me dedico muito, procuro resolver, trago muito recurso para o custeio dos hospitais, para equipamentos, como do Hospital São Paulo, Hospital Regional de Chapecó, de Concórdia, de Caçador, de Joaçaba, de Curitibanos, os pequenos hospitais dos municípios, atendendo aos pedidos dos prefeitos. E também me dedico bastante à desburocratização, que é uma praga que inferniza a vida dos brasileiros e que é a mãe da corrupção, porque a dificuldade traz a propina e a corrupção na área pública. Então a gente tem muitas áreas de trabalho, cada uma dentro do seu momento. Além de se identificar com algumas bandeiras, você tem que tratar do todo, porque essa é a função do deputado federal.

Foca na Notícia – Existe hoje um debate muito forte sobre os agrotóxicos, que agora são chamados de agro defensivos, e o deputado defende que a Anvisa amplie o seu leque de produtos que já são aceitos em outros países e uma corrente ambientalista diz que isso vai trazer mais ‘veneno’ para os alimentos. Como explicar essa sua posição sobre este assunto?

Valdir Colatto – Com certeza o Brasil está atrasado em termos de tecnologia, não só na agricultura, mas em todas as áreas, burocratizando a aplicação e utilização de tecnologia no Brasil. Isso está dificultando que a gente dê passos maiores em direção à modernização da nossa legislação e dos produtos que nós usamos. E assim é em todas as áreas, como nos medicamentos humanos, também temos essa dificuldade em usar o que está sendo aplicado lá fora, mas não é reconhecido aqui. Nossa legislação tem 30 anos e está atrasada, proibindo a utilização de produtos que já são aplicados em países mais desenvolvidos. Para se ter uma ideia, para conseguir produzir uma molécula nova, de um produto agropecuário, seja defensivo, agrotóxico ou qualquer outro nome que se queira dar, são gastos cerca de US$ 300 milhões e o Brasil não tem isso. Então o que nós temos que fazer? Aceitar a tecnologia que já está consolidada lá fora e trazer para o Brasil. Como trazem todas as outras tecnologias em outras áreas. É isso que nós queremos fazer. Quando existir um produto que já é utilizado em três países, desenvolvido com alta tecnologia, com alta pesquisa, que você possa usar aqui também. Infelizmente aqui é proibido. Você tem que fazer um estudo, que leva de oito a dez anos, certificar e recomendar um produto para ser utilizado aqui, e isso faz com que a gente perca a competitividade. Aí acontece como o caso do arroz. Tem produtos que não podem ser utilizados aqui para combater pragas e doenças, porque não são registrados. Então se o produtor gaúcho planta no Uruguai, utilizando esses produtos que lá são liberados, depois ele traz para o Brasil, que é consumido sem nenhum problema. O que nós queremos é modernizar a legislação para trazer produtos que são menos tóxicos, com todo o cuidado e dentro da lei.

Foca na Notícia – O senhor já falou duas vezes contra a burocracia brasileira. A burocracia está emperrando o nosso agronegócio?

Valdir Colatto – Com certeza. Todas as áreas estão sendo dificultadas pela burocracia que ocorre hoje no setor público brasileiro e com a agricultura não é diferente. Só para se ter uma ideia, no Ministério da Agricultura nós temos um programa chamado Agro Mais, que tiramos as partes burocráticas e isso economizou cerca de R$ 1 bilhão por ano. Essa demora, essa falta de licenças, a burocracia, principalmente na questão ambiental, onde você leva anos e anos para liberar uma licença ambiental, gera muitas dificuldades para a agricultura. Seja para registrar novos produtos, para fazer controle de pragas, para certificar uma semente, para fazer a exportação, e isso tem trazido muita dificuldade para o nosso agricultor.

Foca na Notícia – Já que mencionou a questão das licenças ambientais, vamos entrar em outro assunto polêmico. Existe uma corrente forte sobre o ambientalismo e a preservação do meio ambiente e a bancada ruralista, da qual o senhor faz parte e é um grande defensor, tem sido alvo de críticas, alegando que o agronegócio está acabando com o meio ambiente. O que o senhor pode dizer sobre isso?

Valdir Colatto – Olha, eu digo que o problema do meio ambiente existe, mesmo, é na cidade. Primeiro a pobreza, não as pessoas, mas a situação em que elas são obrigadas a viver. Sem esgoto, sem coleta de lixo, com as sub moradias, e o lixo que nós ainda não conseguimos dar conta. Onde está o lixo, o esgoto? Está na cidade. É só você comparar como é o riacho na área rural e como é na área urbana. É um lixo a céu aberto, enquanto na área rural você tem uma água bastante limpa. O agricultor, na verdade, é penalizado por uma visão errada, de que ele é poluidor, porque ele tem que preservar a floresta, ele tem que preservar a água, por conta dele, ninguém paga por isso. Quem coloca 20% do seu patrimônio em favor do meio ambiente com recurso pessoal? Só o agricultor. Nós não deixamos 20% do nosso terreno, do nosso apartamento, da nossa casa a disposição para fazer uma política ambiental. Eu defendo uma classe que é, para nós, injustiçada. Está sujeito a uma legislação muito rígida e os casos em que não se compre a lei, são penalizados. Por exemplo, as embalagens dos defensivos agrícolas são totalmente reciclados. Ele compra, fica cadastrado e tem que dar conta de devolver essa embalagem para fazer a reciclagem. Isso só existe na agricultora. Por exemplo, se eu fizesse isso com as embalagens pet na cidade, quanta poluição não seria evitada, dentro dos nossos rios trancando tudo nos mares agredindo vários animais. Na verdade, o agricultor é que preserva. Nós temos, hoje, 66% de florestas nativas, e cerca de 20% dessas florestas estão dentro das propriedades rurais. Precisamos nos conscientizar que nós da cidade somos os grandes poluidores do meio ambiente.