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Xanxerê- Três anos se passaram desde o evento tornado em Xanxerê, que destruiu parte da cidade, feriu muitas pessoas e causou mortes, deixando marcas na memória da população que nunca serão esquecidas.  Logo depois, no município, muito se discutiu sobre segurança e a possibilidade de que novos eventos poderão acontecer, mas de concreto, somente a construção do Centro Integrado de Gerenciamento de Riscos e Desastres (Cigerd), inaugurado no último mês, aconteceu.

O coordenador regional de Defesa Civil, Luciano Peri, lembra que a estruturação de departamentos da Defesa Civil para uma Secretaria de Estado para a Defesa Civil e necessidade da criação dos Cigerds, em todo o Estado, foi percebida em 2008, quando aconteceu um dos maiores eventos no Estado, que apresentou números qualificados em população afetada e danos materiais, que foi as cheias do Vale do Itajaí.  “Na época, o Estado não possuía uma estrutura especificamente de resposta e é a partir daí que se cria um grupo de estudo e um grupo de trabalho”.

Como em 2010 o Estado voltou a sofrer com nova enxurrada, com isso, as autoridades perceberam que não era possível ignorar a realidade do local. “Hoje, Santa Catarina é o primeiro estado com maior número de desastres, ou ocorrências, por pessoa, e com o maior prejuízo econômico por pessoa em razão de desastres”. Ainda segundo Peri, Santa Catarina é o segundo corredor do mundo na questão de tornados e para eventos adversos como um todo.

Um dos frutos dessa estruturação da Defesa Civil no Estado é a instalação do Cigerd em Xanxerê. “Essa é uma estrutura perene, uma estrutura que nós da Defesa Civil estamos trabalhando, mas é para todas as demais instituições. Nesse viés, essa é uma estrutura para atender a região e para as situações de desastres, sendo o local onde a gente possa fazer as ações de gestão do desastre, quando acontecer, e de gestão do risco, antes de acontecer”. O local possui autonomia de energia, internet e dados, disponibilizando uma sala de situação para que as estruturas públicas Estaduais e Federais possam verificar e ajustar para fazer a gestão, quando necessário.

“O que está acontecendo com a Defesa Civil hoje não é em razão do tornado, é devido ao evento de 2008, mas com certeza, somos beneficiados com a criação da estrutura por ser uma das regiões que mais sofre desastres em Santa Catarina”.

Plano de Contingência

Atualmente, os municípios da região estão estruturando os planos de contingência com cadastramento e levantamento de dados, com referência dos abrigamentos e cadastro de recursos humanos e de equipamentos. “Esse é um trabalho que não se vê, porque é feito nos bastidores e, muitas vezes, somente será visto quando o evento acontecer”.

Em Xanxerê, houve uma primeira reunião no dia 27 de março e no próximo dia 27 de abril acontecerá o segundo encontro para a verificação das informações e compilação de dados. A previsão é que até o mês de julho as duas primeiras fases sejam concluídas. “O sistema integrado da Defesa Civil entrou em funcionamento, possibilitando que os municípios façam as inserções dos dados com recursos humanos e institucionais, nessa sequência porque primeiro é preciso saber quais as pessoas que podem trabalhar, depois os equipamentos que podem ser utilizados numa situação de desastre, para ainda depois fazer um cadastro de abrigos ou abrigamentos, para pessoas, materiais e animais. Após isso, vai para o processo chamado de ações operacionais e a última fase chamada de sistemas de comando e operações”.

Devido aos três anos do tornado, está programado para acontecer um workshop nos dias 24 e 25 de maio, em Xanxerê,  abordando o tema gestão de desastres através da ferramenta SCO (Sistema de Comando e Operações). O evento será realizado no auditório da Associação dos Municípios do Alto Irani (Amai), direcionado às estruturas públicas que terão que atuar em situação de desastre.

Peri considera que o Plano de Contingência terá várias estruturações, mas, mesmo assim, precisa ser funcional. Após a conclusão dessa fase, o segundo passo será a realização do Plano de Ação Emergencial. Na sequência, o Plano de Ação Coordenada, com a inclusão das estruturas públicas, depois os Planos Comunitários de Segurança e, por último, o Plano de Emergência Familiar. “Nós vamos chegar ao menor núcleo, que é o familiar e, por isso, precisamos que o Estado esteja preparado com o Plano de Ação Coordenada e o Plano de Ação Emergencial, que são o trabalho entre estado e município. São várias fases que vão acontecendo e, por isso, o planejamento é grande, vai até 2029”.

Mudança de cultura

Para o coordenador regional de Defesa Civil, a mudança de cultura, necessária para que todo o processo que está sendo pensado tenha eficácia, passa por três fases distintas. Primeiro pela mudança de conceito, com estudos e processo de legislação. “É preciso entender que Defesa Civil não é somente na hora do desastre, mas é o antes”.

A partir disso, gera a mudança de comportamento. “A defesa civil é uma mudança de conceito em que se diz: serve para gestão do risco, antes dele acontecer, preparando a comunidade e minimizando através do processo de mitigação e prevenindo todas as ações possíveis de acontecerem. A mudança ocorre por legislação, treinamento e capacitação”. E, a terceira mudança é fazer com que todo esse processo se torne hábito.

Peri ressalta que a Defesa Civil de Santa Catarina pretende ser a mais estruturada, com melhor segurança do Brasil e da América Latina e, nos próximos anos, com a comunidade entre as três mais seguras do mundo, junto com o Japão, Europa e Estados Unidos. “Vamos trabalhar simulados na comunidade, nas escolas e com as nossas equipes, sendo que o primeiro simulado, provavelmente, acontecerá em junho ou julho, quando faremos o acionamento do Grupo de Resposta e Ação Coordenada, um grupo do Estado e Governo Federal, que será acionado para sabermos quanto tempo leva para as equipes chegarem até aqui para iniciar a resposta”.

Peri relata que na legislação federal está estabelecido que é responsabilidade dos municípios fazer o levantamento das áreas de risco e incorporar aos planos de contingência o código de obras e posturas. “Santa Catarina será o primeiro estado a ter 100% das áreas mapeadas com suscetibilidade de risco, isso fará com que tenhamos o conhecimento de quais são as nossas áreas de risco, quais problemas que temos e quais as limitações em relação a obras, definindo o que não pode ser feito”.

Hoje, Santa Catarina oferece ferramentas para que os municípios possam fazer essa avaliação. “Com o convênio da União, apoiando o Estado e os municípios para o mapeamento de risco, o estado fez convênio para a CPRM (Companhia de Pesquisa e Recursos Minerais) para fazer esse mapeamento de risco. A primeira etapa que iniciou no dia 15 de janeiro, já acabou na nossa região no dia 28 de fevereiro, e será entregue na metade de maio. Com isso, todos os nossos municípios vão saber quais são as suas áreas de risco, quais as recomendações e vão começar a fazer o processo de implementação dentro do plano diretor ou do código de posturas”.

Enquanto não são concluídas todas as etapas, as estruturas no Estado estão trabalhando de forma integrada. “Uma das ferramentas será o workshop para saber o que fazer em uma situação de desastre com o emprego da ferramenta SCO, mas, enquanto isso, caso ocorra novo tornado, se treina e se busca fazer esse levantamento de dados, treinamento e capacitação das estruturas públicas que possuam responsabilidade legal para atender”.

Peri ressalta que esta é uma ação de quatro entes: União, Estado, município e comunidade. “Se houver essa integração será possível fazer a implementação da estrutura e, consequentemente, a gestão do desastre ou a gestão do risco, que é ainda mais importante”.

Hoje, se acontecer um desastre, as estruturas públicas, federais e estaduais, em Santa Catarina, estão preparadas para atender a comunidade. “Passados três anos do tornado, nós estamos mais preparados. O exemplo disso é essa estrutura, que naquela época não existia e que hoje existe, além do colegiado dos coordenadores municipais e o grupo de resposta e ação coordenada”.

Uma orientação repassada pelo coordenador da Defesa Civil é que a população utilize o Cadastro de Alerta de Desastres no SMS 40199, com o CEP do município. “Essa é a primeira ferramenta que está sendo qualificada e quando estiver disponível a informação das áreas de risco, será possível emitir os alertas de forma pontual. Atualmente, os alertas são ampliados”. Em segundo lugar, Peri recomenda seguir as informações dos organismos oficiais e participar dos Núcleos Comunitários de Proteção e Defesa Civil, que serão criados. “Participem dos projetos, seja do Conselho de Segurança, seja da coordenadoria municipal, através dos voluntários, que dentro do plano de contingência tem isso, para que possamos fazer essa capacitação e, principalmente, participe e auxilie os simulados, que é uma ferramenta muito importante para a comunidade saber como agir”.